Caros leitores, desta vez trago um pouco de ironia corporativa. A ideia de redigir este texto veio de um diálogo simples, travado na sala de reunião de uma gestora de recursos de capital de risco, diante da qual eu representava os interesses de um cliente interessado em atrair investimentos para o seu plano de expansão.
O sócio principal da gestora se levanta na hora da despedida e diz aos meus clientes — gosto muito quando vocês vem aqui, não são arrogantes, mantém os pés no chão e preservam a elegância mesmo nos momentos mais estressantes.
De fato a negociação era complexa, desgastante e repleta de idas e vindas.
Ainda no trânsito voltando ao escritório, por incrível que pareça, o que tomava conta da minha cabeça não eram os evidentes desafios que ainda enfrentaríamos naquela transação. Mas a simplicidade do que motivou o elogio do meu interlocutor aos meus clientes.
Pensando nisso, me sensibilizei no quanto alguns padrões comportamentais são relevantes para a determinação do fracasso e do êxito de alguns projetos empresariais. E, também, no quanto de confiança ou desconfiança inspiram nos seus interlocutores mais astutos.
O ponto é que a arrogância turva o senso crítico, e com isso não há voo empreendedor que não seja assim, meio cego. Bom, o resultado é conhecido.
Muita empáfia, poucos resultados.
Sendo assim, seguiremos apresentando uma lista que representa tudo aquilo que não se deve fazer, caso o objetivo não seja o de formar uma equipe oca e sem conteúdo. Por último, ainda sob a mesma ótica, apresentaremos uma relação de atitudes e procedimentos excelentes para destruir uma competente equipe.
Vamos lá:
O que NÃO fazer ao construir uma equipe
1. Construa a falsa imagem de que a sua equipe pertence a uma determinada geração, e que isso por si só já representa um diferencial competitivo;
2. Não aceite (e não permita que sua equipe aceite) críticas direcionadas ao negócio de vocês ou a forma como ele é conduzido;
3. Ridicularize toda e qualquer experiência compartilhada, comentário ou análise que venha de qualquer profissional que não pertença à geração;
4. Estimule a cultura do fundamentalismo empreendedor. Ataque o senso de que estão construindo um negócio que traz utilidade, bons serviços ou produtos junto com bons lucros e resultados. No lugar disso, estimule a percepção de que irão mudar o mundo e de que nada nem ninguém os deterá. Mas faça isso com um sorriso debochado e confiante.
5. Não cumpra (e não permita que ninguém cumpra), propositadamente qualquer protocolo negocial. Não seja pontual, não faça necessariamente aquilo com o que se comprometeu e mude de ideia ou posição sem justificativa ou qualquer cuidado.
6. Seja agressivo e grosseiro no trato com parceiros, investidores interessados, clientes e com qualquer outro interlocutor que se aproxime. Estabeleça punição para os colaboradores mais cordiais;
7. Elimine qualquer resquício de bom senso, e no lugar dele implante a ideologia de uma confiança tão inabalável, que mesmo diante do precipício ninguém consiga conter o desastre. Caso não tenha caído nas armadilhas, observe como é árduo formar uma equipe eficiente.
Em muitas situações são anos de tentativas, com erros e acertos até que em um determinado momento a orquestra se forma.
Geralmente ela é entrosada, comprometida, dotada de uma cultura própria, mas que convive com as particularidades. Ela é o sonho de 10 entre 10 empreendedores inteligentes.
Mas nem todos atingem esse êxito ao formarem seus quadros e, entre aqueles que conseguem, um bom número se afunda nas armadilhas do processo de gestão, que invariavelmente acabam por destruir aquilo que construíram.
Aqui caminhando mais uma vez no sentido inverso, apontamos aquelas atitudes e práticas que servem para acabar de vez com uma equipe invejável.
Atitudes e práticas que destruirão uma boa equipe
1. Atue coberto de soberba e crie um mito sobre você mesmo. Para os seus colaboradores você sempre tem razão;
2. Seja grosseiro ao tratar com as pessoas. Trate-as com desrespeito, com expressões e atitudes rudes e duras;
3. Preocupe-se excessivamente na sustentação da sua autoridade. Preferencialmente imponha-se pelo medo causado, sem se preocupar em ser respeitado de verdade;
4. Persiga e prejudique as carreiras daqueles que são mais críticos. Para estes não abra espaço nem oportunidades. Eles são do contra e não merecem atenção;
5. Trabalhe e exija metas absurdas e inalcançáveis, sempre sob a ótica de que quanto mais pressão melhor;
6. Mantenha um clima de profunda e aguda exigência sobre tudo. Aproveite a oportunidade e elimine o senso de tolerância;
7. Esteja sempre bravo e irritado;
8. Cultive o stress como um valor, crente de que quanto mais melhor;
9. Cultive, absorva e aplique todas as novas modinhas de gestão, criando uma atmosfera de mudança permanente e estabilidade zero;
10. Prestigie seus colaboradores por critérios subjetivos, dignos de uma boa psicologia corporativa de botequim. Deixe de lado o conceito de meritocracia;
11. Atue de forma que a confiança na sua palavra seja nenhuma, afinal de contas você não deve satisfações a ninguém;
12. Explore-os economicamente, de forma a obter o melhor retorno possível, em detrimento de uma equipe bem, ou justamente remunerada.
Um abraço e até o próximo.
Fonte: Saia do Lugar